top of page

Psicologia Analítica

Paisagem de Psicologia Analítica

Desde muito cedo, Carl Gustav Jung teve a consciência clara de viver entre dois mundos: o mundo exterior com as tarefas e as expectativas próprias do seu tempo histórico e social, e um mundo interior, antigo, repleto de imagens e fantasias que o retiravam do aqui e agora, mas que o fascinavam e seduziam. Procurando encontrar respostas para as perguntas que estes dois mundos lhe traziam, interessou-se por história, arqueologia, filosofia, literatura, arte, religião e ciência. A sua proposta de dinâmica da Psique e mapa do mundo interior que hoje temos disponível na Psicologia Analítica na sua vertente teórica e clínica, reflecte esta consciência de que para tentarmos perceber a totalidade e complexidade do ser humano, precisamos de linguagens que falem do fora e do dentro.
Ao inconsciente, Jung chamou de forma geral, Sombra. Ao contrário de Freud, Jung não percebeu o inconsciente apenas como um depósito daquilo que foi esquecido ou reprimido, mas sim como uma fonte de criatividade e potencial, a matriz de onde a vida consciente emerge. Ao mergulhar no inconsciente, percebeu que a sua linguagem são as imagens e os símbolos, tentativas de comunicar emoções e atitudes que procuram expressão; percebeu que a Psique tem esta capacidade inata de simbolizar e de se expressar por imagens, numa forma que nem sempre é inteligível pelo ego, com a sua linguagem da racionalidade, das palavras e das sensações. Muitas das nossas imagens interiores estão relacionadas com o contexto em que nascemos, com os nossos primeiros cuidadores e a relação que construímos com eles, com as experiências positivas e negativas que fomos vivendo não só na nossa infância, mas ao longo da nossa vida. A estas imagens e emoções associadas, Jung chamou de complexos, estruturas psíquicas que habitam o inconsciente pessoal e que quando activadas, invadem a esfera da consciência. Percebeu, contudo, que também somos influenciados por mais do que apenas o contexto social, familiar e cultural, que não nascemos uma folha em branco que começa a ser escrita apenas quando nascemos, mas que somos também a síntese da história dos nossos antepassados, da história da humanidade, que somos depositários de imagens e símbolos universais, os arquétipos, partilhados por toda a humanidade e presentes nas diversas mitologias, religiões, tradições espirituais e folclore, formas simbólicas de expressar padrões típicos que partilhamos enquanto espécie. A este nível de realidade psíquica, Jung chamou de inconsciente coletivo. 
Percebeu que em nós existem dois centros em permanente diálogo e tensão, co-criando o processo natural de desenvolvimento a que chamou de individuação, a síntese entre adaptação ao mundo exterior e a expressão da nossa individualidade e potencial. Um deles o “eu”, um complexo de identificações, memórias, preferências, adaptações ao mundo exterior (que chamamos em Psicologia Analítica de Persona) e centro da consciência. Ao estudar a natureza da consciência, Jung desenvolveu uma teoria de tipologia psicológica, na qual encontramos oito formas de apreensão dos objectos interiores e exteriores e de processamento dessa informação. Um outro centro, o “Si Mesmo”, detentor de uma consciência alargada e total de quem somos, do nosso potencial enquanto indivíduos e espécie nas dimensões pessoais e transpessoais, sempre presente, mas esquecido e urgindo revelar-se. Esta totalidade que somos transcende aspetos de género e contem qualidades e atitudes universais que somos chamados a integrar e que se apresentam simbolicamente nos arquétipos da Anima e Animus. 
A Psicologia Analítica visa a tomada de consciência destes elementos inconscientes através de métodos como a análise de comportamentos e atitudes, trabalho com sonhos, o trabalho com a Imaginação Activa e a exploração de mitos, contos de fadas e símbolos, estimulando o desenvolvimento de uma atitude simbólica e formas activas de expressão. 
Apesar de inspirada e fundada no trabalho de Carl Gustav Jung, a Psicologia Analítica tem evoluído teórica e clinicamente através de muitos autores pós-Junguianos que têm trazido nuances e atualizações à teoria original. Segundo a caracterização originalmente criada pelo analista Junguiano Andrew Samuels, temos hoje três escolas de Psicologia Analítica - a escola Arquetípica, a escola Desenvolvimental e a Escola Clássica - cada uma delas enfatizando alguns aspetos da dinâmica psíquica deste modelo. Nas últimas décadas, a ponte com a neurociência tem contribuído para aprofundar e confirmar muitos conceitos e métodos da Psicologia Analítica. 
A Psicologia Analítica, pelo seu caráter holístico de perceber a Psique humana, torna-a relevante em vários campos de aplicação para além da psicoterapia, como o estudo de fenómenos culturais, arte e criatividade e a Psicologia das religiões. As aplicações clínicas tomam as formas de Psicoterapia Analítica e Analise Junguiana, que baseadas nos princípios teóricos da Psicologia Analítica, procuram explorar e integrar os vários aspectos da Psique para promover o auto-conhecimento, o crescimento pessoal e o equilíbrio psicológico. Este processo de tomada de consciência e transformação é um trabalho conjunto entre o Paciente e o Analista, que assenta na relação profunda e intima entre ambos e nas dinâmicas que surgem desta relação (o que chamamos de transferência e contra-transferência).

bottom of page